Aos 35 anos de idade, Gabriel Boric foi eleito Presidente da República do Chile, tornando-se o mais jovem Chefe de Estado da América Latina.

O antigo líder estudantil e deputado conseguiu 4 620 671 votos (55,87%), quase mais um milhão do que o seu oponente, o candidato da direita José Antonio Kast, com 44,13%. A eleição ficou também marcada por ter conseguido o maior número de eleitores a participarem, desde que, em 2012, o voto chileno deixou de ser obrigatório. 55.65% da população foi às urnas, um aumento de 6% quando comparado com as eleições presidenciais de 2017.
Tendo ficado em segundo lugar na primeira volta eleitoral, o esquerdista conseguiu ampliar a sua base de apoio nas regiões rurais do país e garantiu o apoio de partidos do centro como Concertación, Partido Socialista do Chile e Partido Demócrata Cristiano, o que serviu para conquistar parte da população que não se identificava com a sua proximidade ao Partido Comunista.
Uma figura largamente incógnita até agora, Boric começou a ganhar visibilidade em 2011 ao liderar protestos universitários pela melhoria da educação pública. Em 2014 tornou-se deputado independente, o único na legislatura, integrando as comissões permanentes de Direitos Humanos e Povos Originários, Zonas Extremas e Antártica Chilena e Trabalho e Segurança Social. Em 2016 fundou o seu próprio partido, Movimiento Autonomista, que seria posteriormente incluído na coligação Frente Amplio. Participou ativamente nos protestos de 2019, sendo também um dos subscritores do Acuerdo por la Paz Social y la Nueva Constitución, iniciando o processo constituinte no país.
Tendo concorrido com a idade mínima permitida para se apresentar à presidência, Boric tornar-se-á ainda o presidente mais jovem da história do Chile. A sua juventude permitiu-lhe apresentar-se como representante de uma geração nascida depois da queda de Pinochet, o que lhe garantiu os votos dos jovens, mulheres e distritos mais pobres do Chile.
Inicialmente relutante em ser candidato presidencial devido à sua falta de experiência, Boric aceitou concorrer às eleições primárias do bloco Frente Amplio, conseguindo uma vitória surpreendente sobre o mais estabelecido candidato proposto pelo Partido Comunista.
A sua presidência terá vários desafios pela frente, a começar logo pelo facto de não vir a ter maioria nem no Senado nem na Câmara de Deputados. Além disso, terá pela frente o processo de criação da nova constituição chilena, que poderá levar à mudança de um sistema presidencial para um parlamentarista ou até redefinir a duração dos mandatos presidenciais. Contudo, dos 155 deputados constituintes, a maioria é de esquerda, sendo que o triunfo de Boric na presidência poderá levar a que se tentem reformas mais profundas.
Quanto à economia, o seu plano de governo inclui reformas significativas como a mudança do sistema de pensões (pondo fim às AFP, entidades privadas que servem como administradoras de fundos de pensões), criar um novo sistema nacional de saúde e proceder a uma reforma tributária gradual.
Boric já assumiu que terá de chegar a consensos, afirmando no seu discurso de vitória que as mudanças vão precisar de acordos amplos e que serão feitas com responsabilidade fiscal, tomando em conta a prudência macroeconómica. O apoio dos partidos do centro será fundamental, o que significará necessariamente uma moderação governativa da parte do presidente-eleito.
No plano das relações exteriores, e especificamente do contexto regional, o Chile junta-se aos vizinhos fronteiriços Argentina, Bolívia e Perú, no sentido em que são todos governos de esquerda.
Internamente, a direita reconheceu a derrota com José Kast a dar os parabéns a Boric e, inclusivamente, tendo visitado a sua sede de campanha na própria noite eleitoral. O presidente Piñera também já garantiu que irá dar toda a ajuda necessária durante a transição de poder, garantindo assim o normal funcionamento do processo democrático.
Fotografia: Marcelo Hernández (Getty Images).
Fontes
- Molina, Federico Rivas. (2021). Gabriel Boric, la nueva cara de la izquierda en América Latina. El País. Disponível em https://elpais.com/internacional/2021-12-19/boric-la-nueva-cara-de-la-izquierda-en-america-latina.html Acedido a 20/12/2021;
- Molina, Federico Rivas e Montes, Rocio. (2021). Los municípios pobres de Santiago de Chile se rinden al izquierdista Gabriel Boric. El País. Disponível em https://elpais.com/internacional/2021-12-17/los-municipios-pobres-de-santiago-de-chile-se-rinden-al-izquierdista-gabriel-boric.html Acedido a 20/12/2021;
- Bosco, Juan. (2021). Boletín nº35. El Americanista. Disponível em https://elamericanista.com/si-kennan-levantara-la-cabeza/#Boletin_n.35-hilo-1 Acedido a 20/12/2012;
- Montes, Rocio. (2021). Kast, tras reconocer su derrota: “Nuestro proyecto no es pasajero”. El País. Disponível em https://elpais.com/internacional/2021-12-20/kast-tras-reconocer-su-derrota-nuestro-proyecto-no-es-pasajero.html Acedido a 20/12/2021;