
África atravessa uma nova fase no combate à COVID-19.
O continente contrariou todas as expetativas que recaíam sobre a sua capacidade de fazer frente à pandemia, sendo atualmente a região mundial com menos mortes e a segunda com menos casos. Os países mais afetados pelo COVID-19 em África são: África do Sul, Marrocos, Egito e Etiópia.
A presente fase do combate ao vírus implica a vacinação em massa da população. Até ao momento, quase 12 milhões de doses da vacina COVID-19 foram administradas em África, onde após meses de espera nas linhas laterais por vacinas, muitos dos primeiros países a iniciar campanhas estão a vacinar rapidamente os grupos de maior risco.
Os países têm acesso às vacinas por meio da COVAX Facility, acordos bilaterais e doações, tendo no total 38 países africanos recebido mais de 25 milhões de vacinas COVID-19 e 30 iniciaram campanhas de vacinação. A iniciativa COVAX visa facilitar o acesso equitativo ao medicamento por parte dos países menos desenvolvidos. Por meio desta iniciativa – que é co-liderada pela Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI), a Gavi - The Vaccine Alliance, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a UNICEF – mais de 16 milhões de doses de vacina foram enviadas até agora para 27 países.
Uma pesquisa sobre a confiança em ser vacinado contra a COVID-19 em 15 países africanos, realizada peloCentro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana, indica que é necessário trabalhar na comunicação sobre vacinas. Em todos os países, a disposição para tomar vacinas COVID-19 variou de 94% na Etiópia a 59% na República Democrática do Congo. No geral, a segurança da vacina era a principal preocupação; 25% dos entrevistados acreditam que uma vacina COVID-19 não é segura e 18% acreditam que as vacinas geralmente não são seguras. Os entrevistados que eram mais velhos, aqueles que conheciam alguém com teste positivo para COVID-19 e aqueles que vivem em áreas rurais eram mais propensos a tomar a vacina COVID-19 do que pessoas mais jovens, as que não viram que a COVID-19 afeta qualquer pessoa, as que vivem em ambientes urbanos. Adicionalmente, as razões para a recusa da vacina incluíram a crença de que COVID-19 não existe ou que sua ameaça é exagerada.
O produto da empresa farmacêutica anglo-sueca (Astrazeneca) é a principal vacina utilizada em África, onde chegou principalmente através da COVAX. Esta vacina tem sido suspensa em alguns países europeus, o que aumenta a desconfiança por parte dos africanos, apesar do diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC-UA), John Nkengasong, ter reforçado que a União Africana (UA) mantém a confiança nesta vacina para a redução dos riscos associados ao Covid – 19.
A UA confirmou no final de março a compra de 220 milhões de vacinas de dose única COVID -19 à Janssen, uma subsidiária da Johnson & Johnson Pharmaceuticals, a serem distribuídas no terceiro trimestre de 2021. O continente tem planos para adquirir mais 180 milhões de doses desta vacina em 2022.
A OMS afirma garante que, até agora, menos de 2% do número total de doses da vacina Covid administradas globalmente foram na África. O diretor do CDC-UA diz que as vacinas fornecidas sob o esquema da COVAX "não vão tirar a pandemia" do continente sem mais assistência. O mesmo reforça que os países africanos precisarão eventualmente vacinar pelo menos 60% de suas populações, e sua meta para este ano é de apenas 35%. Uma pesquisa recente do Banco Mundial e do FMI estima que África precisaria de gastar cerca de 12 mil milhões de dólares na aquisição e distribuição de vacinas, a fim de obter cobertura suficiente para impedir a propagação do vírus.
Neste momento em África, o Reino do Marrocos é o país que está mais avançado na vacinação, tendo já vacinado 11% da sua população – um total de quase 9 milhões de doses administradas. Depois vem a República Federal da Nigéria com quase 950 mil doses administradas, o Gana com 600 mil doses administradas e o Ruanda com quase 350 mil doses administradas. O país com mais casos em África, que é a África do Sul, somente administrou até ao momento 300 mil doses, o que corresponde a apenas 0,5% da população sul-africana.
Esta escassez de vacinas em África tem feito a Rússia e a China competir, na esperança de consolidarem as respetivas influências num continente onde muitos países ainda não administraram uma única injeção. Porém, até agora, as doações de vacinas de Pequim e Moscovo têm sido pequenas e os acordos comerciais que oferecem são considerados caros pelos governos locais. Moscovo ofereceu 300 milhões de doses com financiamento para um esquema de compra da União Africana (UA) e Pequim prometeu quase um quarto de todas as suas doações de vacinas para a África, de acordo com dados compilados pela Bridge Consulting, uma consultora do setor de saúde com sede em Pequim.
O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que a Europa e os Estados Unidos correm o risco de perder influência na África neste âmbito. No entanto, John Nkengasong, chefe dos Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças, alertou contra a “diplomacia de vacinas”, afirmando que os poderes não devem utilizar alocações simbólicas para atrair influência política.
África recebeu da China cerca de 3,15 milhões de vacinas, ou seja, menos de 4% das exportações de vacinas chinesas. Até agora, a China vendeu e doou vacinas para 13 países africanos: Argélia, Marrocos, Tunísia, Egito, Senegal, Guiné, Serra Leoa, Guiné Equatorial, Gabão, Congo, Namíbia, Zimbábue e Moçambique. Contudo, a China não está apenas a doar vacinas a países africanos. As doações chinesas também contemplam países da Ásia, América Latina e Europa, enquanto a maioria dos países ocidentais se concentram em garantir doses de vacinas para as suas próprias populações. Do lado russo, foram enviados um total de cerca de 100.000 doses de vacinas para a Argélia, Tunísia e Guiné.
Angola foi o primeiro país lusófono a receber vacinas pela iniciativa COVAX – no início de Março recebeu um lote de 624 mil doses do imunizante da Astrazeneca, tendo já administrado, até ao momento, mais de 250 mil inoculações. Este país recebeu ainda do governo chinês 200 mil doses de vacina Sinopharm, do Instituto Biológico de Pequim. Para além disso, o governo angolano vai adquirir 6 milhões de doses da vacina Sputnik V, produzida na Rússia, por 111 milhões de dólares americanos.
Texto: Daniel Mawonso e Nuno Vilão
Edição: Filipe Domingues
(Créditos imagem: https://www.ft.com/content/d739be91-579e-4ecd-ad84-4f0161a8d1b3 - Patrick Meinhardt/Bloomberg)