Relatório tendências comerciais América Latina e Caraíbas
A par da economia mundial, a principal tendência para a região América Latina e Caraíbas, durante o ano de 2015, é de desaceleração das exportações.
Estima-se que a contração seja de 14%, nas vendas de bens da América Latina e Caraíbas, durante 2015. Trata-se da maior quebra desde o início da crise financeira internacional em 2010, baixando o valor exportado para 915 mil milhões de dólares. Torna-se assim o terceiro ano consecutivo em que as vendas caem. Esta é também uma tendência do comércio mundial, que registou uma redução de 11,9% entre Janeiro e Setembro de 2015. Prevê-se ainda uma queda de 10,3% nas importações desta região, determinada pelos preços e pelo menor crescimento das economias regionais.
Nos valores das exportações influenciaram as sucessivas correções dos preços dos produtos, a pressão da apreciação do dólar americano e a unidade de conta do comércio mundial. Esta dinâmica nos preços não foi compensada por crescimentos relevantes dos volumes exportados, antes tendo-se verificado nalguns mercados uma queda na demanda real.
Panorama geral
Impacto por sub-regiões – depois de dois anos de estagnação virtual, nos últimos meses de 2014 começou a verificar-se um deterioramento nas exportações, que se aprofundou em 2015, principalmente nos últimos meses. Os países da América do Sul foram os primeiros a ser afetados pela baixa nos preços dos produtos básicos, em particular no petróleo e metais, bem como pela desaceleração da demanda das economias asiáticas – estes são os principais fatores da contração das exportações em 2015 (-21%). Na Mesoamérica a retração foi menor que no resto da região (-4%), e mais marcada para as exportações centro-americanas (-7%) relativamente aos envios do México (-4%), que tiveram um peso relativo maior nessa sub-região. As exportações dos países das Caraíbas reduziram 23% (se se excluísse Trinidad e Tobago passaria a 9%) O resultado agregado das exportações da América Latina e Caraíbas é o produto das quedas de quase todos os países: apenas El Salvador (+6%) e Guatemala (+2%) mostraram crescimento nas vendas ao exterior. Os países com maiores contrações estimadas são onde os hidrocarbonetos têm maior peso.
Mercados – Esta situação situa-se num contexto de escasso e irregular crescimento dos principais parceiros comerciais, destacando-se a China e a própria região, observando-se uma contração contínua da demanda externa que se canaliza na América Latina e Caraíbas. A contração das importações chinesas foi-se moderando nos últimos meses, porém o crescimento do volume de importação de produtos básicos não compensou a descida dos preços, estimando-se que o ano acabe com uma queda de 14%.
As importações dos EUA obedecem ao padrão de diminuição nos produtos básicos, determinada por preços mais baixos e forte influência das importações de petróleo, bem como uma insuficiente recuperação das manufaturas – estima-se uma redução de 7%. No caso da União Europeia, verifica-se uma maior queda nas compras, em parte devido à depreciação do euro face ao dólar, o que levará a uma queda nas exportações de 18% em 2015 e de 19% nas importações inter-regionais.
Em geral, a contração nas importações foi maior por parte dos seus principais parceiros comerciais face às importações totais, o que demonstra a conjuntura mais severa do sector externo da América Latina e Caraíbas.
Preços – o fator principal da detioração da exportação é a tendência de regressão das cotações dos principais produtos básicos da América Latina e Caraíbas desde 2011, que se tem agudizado desde fins de 2014. Os preços de bens de consumo final mantêm-se nos níveis anteriores à crise internacional do fim de 2008. As cotações de produtos energéticos, principalmente de petróleo, ferro e cobre, sofreram pesadas quedas.
Desempenho por sub-região
Mesoamérica – com o fim do ano, as exportações desta sub-região somam 427 mil milhões de dólares, i.e., uma contração de 4%. Tal reflete essencialmente as exportações do México (-4%) devido ao seu peso total, ainda que o pior desempenho seja da América Central (-7%). Os restantes países da Mesoamérica tiveram resultados algo heterogéneos (Costa Rica com -17%, Panamá com -15%, República Dominicana com -14%, Nicarágua com -5%, Honduras com -1%, compensados por El Salvador com 6% e Guatemala, com 2%). Já o comércio intrarregional cresceu 2%, devido principalmente a bens manufaturados. As importações para os EUA e EU decresceram 3% e 7% respetivamente.
Quanto ao México, cujo destino de 80% dos produtos são os EUA, as vendas caíram 4% em 2015, refletindo-se em menos 3% para os EUA, -20% para a China, -7% para a UE e -10% para a América Latina. Isto devido à redução das vendas de produtos manufaturados e queda do preço do petróleo.
Relativamente à Costa Rica, os EUA e Ásia constituíam os seus principais clientes. Foi afetada pela redução de vendas sob o Regime Especial de Comércio (REC) e pelas menores vendas de eletrónicos. Por outro lado, as vendas ao resto da Mesoamérica subiram 9%, porém é insuficiente para compensar as relações com os outros parceiros. Cresceu 11% na América Central, mas retraiu-se 8% em relação ao México.
El Salvador apresenta um nível de exportação positivo (6%). As exportações finais contribuíram em 2/3 para o crescimento dos envios. Com excepção da UE, as vendas aumentaram em todos os destinos, como os EUA, Mesoamérica e China (grande importador de açúcar).
Na Guatemala, o crescimento de 2% é reflexo do desempenho dos seus parceiros comerciais mais relevantes: grande incremento nuns (como a China e Japão) e decréscimo de outros (Coreia, El Salvador, EUA, Canadá).
Nas Honduras verifica-se uma variação leve nas exportações, ainda que 1% negativa. Registou grandes contracções em clientes como a China (-80%) e México (-47%), parcialmente compensadas pela UE (8%) e América do Sul (47%), com subida nas exportações dos seus principais produtos.
Já a Nicarágua contraiu os seus envios e exportações finais em 5%, devido ao decréscimo nas vendas ao Canadá, México e Venezuela. Porém, aumentou as exportações para os EUA e América Central.
As exportações finais para o Panamá refletem uma retração de 15%, com reduções significativas da China, EUA e EU, mas com aumentos da Mesoamérica e Ásia.
Na República Dominicana, os países que mais contribuíram para a queda de 14% nas suas exportações foram os EUA, Haiti e Canadá. Contudo, as suas vendas à Ásia (exceto à China) quadruplicaram, salientando-se a India, e cresceu ainda na Mesoamérica, o que atenuou a queda da sua economia.
América do Sul: em 2015, as exportações dos países desta região fixar-se-ão em 471 mil milhões, com uma queda significativa de 21% relativamente a 2014. Os mais afetados foram a Venezuela, Colômbia, Bolívia e Equador, sem esquecer as contrações dos restantes países. A dependência da Ásia (exceto China) e dos EUA agrava as tendências futuras.
As exportações da Argentina (-16%) viram-se afetadas principalmente pela redução das exportações brasileiras, dos EUA e UE, com uma pequena compensação da subida das vendas chinesas.
Na Bolívia, a diminuição das exportações em 32% explica-se maioritariamente pela redução nas vendas regionais, particularmente à Argentina, Brasil e EUA, devido à redução dos preços do gás e petróleo.
A colocação externa do Brasil viu-se reduzida nos seus destinos principais. O ferro, petróleo e soja explicam a redução das exportações principalmente pelo efeito no seu preço.
No Chile, os seus 16% de queda nas exportações devem-se às baixas nos envios para a China, resto da Ásia, EU e mercado intrarregional, principalmente pela redução do preço do cobre.
Também a Colômbia, com uma queda de 35%nas exportações, sofreu as consequências da redução do preço do petróleo. As vendas à China e da Ásia inclusive baixaram mais que o esperado com esta situação.
Parte da retração das exportações do Equador (-28%) deve-se aos menores envios para os EUA, principalmente devido ao efeito da queda do preço, e parte deve-se aos países da própria região. Apesar disto, expandiu as vendas para a Ásia, em especial para a China, ainda que em número insuficiente para compensar a grande queda.
No Paraguai, a contração (-15%) explica-se em grande parte pela baixa na venda de grão de soja e menor preços deste. O mesmo se diga quanto à farinha de soja e carne. As exportações do Perú (-16%) para o resto da América Latina, Caraíbas e EUA registaram a maior redução para o país, em parte devido à queda dos preços dos minerais.
No caso do Uruguai (-16%), este expandiu as suas vendas aos EUA, embora apresente uma forte contração nos envios aos seus restantes clientes, em especial aos parceiros da Mercosul, também devido à queda dos preços dos produtos.
Na Venezuela, a queda foi de 49%, diminuindo as exportações para todos os destinos, na sua maioria devido à redução do preço do petróleo.
Caraíbas: em geral estima-se para 2015 um contração agregada de 23%, passando a 9% se se excluir Trinidad e Tobago. Os EUA e UE, seus mercados principais, tiveram desempenhos negativos neste ano.
A redução das exportações em Barbados (-5%) explica-se pelos menores envios intrarregionais, mesmo compensado pelos aumentos para os EUA e UE.
No Belize, a UE e o México foram as principais causas da diminuição das suas exportações (-13%) Na Guiana, a sua redução (-4%) deveu-se à contração nos envios aos EUA e Canadá, atenuados pelos crescimentos nas vendas ao Panamá, parceiros nas caraíbas e na UE. Praticamente todos os parceiros da Jamaica reduziram as suas trocas com o país em 2015 (-7%), salientando-se o peso dos EUA, UE e países da sua sub-região.
A redução estimada nas vendas do Suriname (-14%) foi provocada essencialmente pelo comportamento dos EUA.
O colapso nos preços dos hidrocarbonetos afetaram severamente as exportações de Trinidad e Tobago (-27%), com os EUA e a região das Caraíbas a contribuir mais para esta situação.
Conclusão Em 2015, as exportações da América Latina e Caraíbas registaram a maior queda desde o início da crise financeira internacional, registando uma diminuição de 14% face ao ano homólogo. Este número reflete, em grande parte, a redução dos preços dos produtos básicos, muito exportados neste continente, e os fracos desempenhos na venda de produtos manufaturados. Houve um impacto quase imediato da retração dos envios extrarregionais sobre os níveis de comércio intrarregionais, evidenciando a dependência dos países latino-americanos e das Caraíbas do setor externo. Apenas na região Mesoamericana é que as economias atuam como foco de absorção das suas exportações.
Em 2016, os riscos para o crescimento das exportações continuam altos. Por um lado, não há grandes indícios de uma reversão desta fase de contração das cotizações das matérias-primas. Por outro lado, o modesto crescimento dos EUA e da EU tem que se conjugar com uma desaceleração da economia chinesa e do próprio intercâmbio intrarregional, que tem que ser impulsionado para a exportação. Finalmente, a divergência das políticas monetárias dos EUA e da zona euro apontam para uma apreciação do dólar que pode acentuar as pressões deflacionárias do comércio desta região.
Dada esta conjuntura, urge implementar políticas de promoção e facilitação comercial que contribuam para reverter a tendência atual e impulsionar a diversificação comercial.